ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 05-6-2003.

 


Aos cinco dias do mês de junho de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e sete minutos, constatada a existência de quórum, a Senhora Presidenta declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana Mundial do Meio Ambiente e a proceder à entrega do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Fundação Gaia, nos termos do Projeto de Resolução n° 007/03 (Processo n° 0022/03), de autoria do Vereador Beto Moesch. Compuseram a MESA: a Vereadora Maria Celeste, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Luiz Paulo Rodrigues Cunha, Secretário Estadual Substituto do Meio Ambiente e representante do Senhor Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Lara Lutzenberger, Presidenta da Fundação Gaia; o Senhor Luiz Alberto Aurvale, Procurador da República; a Senhora Verena Nigard, Presidenta da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul; o Vereador Ervino Besson, 2° Secretário da Casa. A seguir, a Senhora Presidenta convidou a todos para, em pé, ouvirem o Hino Nacional, registrou a presença do Senhor Dieter Wartchow, Secretário Municipal do Meio Ambiente e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Beto Moesch, em nome das Bancadas do PP, PTB e PSB, registrou o transcurso, hoje, do Dia Mundial do Meio Ambiente, destacando a importância da luta pela implementação de projetos que garantam o desenvolvimento econômico aliado à preservação do ambiente natural. Também, salientou a justeza da concessão do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Fundação Gaia, comentando aspectos alusivos às atividades desenvolvidas pela entidade hoje homenageada. Durante o seu pronunciamento, o Vereador Beto Moesch registrou as seguintes presenças: do Senhor Jorge Alberto Villwock, Diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e representante do Irmão Norberto Rauch; do Senhor Ivo Fortes dos Santos, representante do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; dos Senhores Celso Marques e Edi Fonseca, respectivamente ex-Presidente e Presidenta da Associação Gaúcha de Proteção Ambiental – AGAPAM. O Vereador Ervino Besson, em nome da Bancada do PDT, abordou dados alusivos à infância de Sua Excelência, passada no Interior do Estado, relatando a importância da vida no campo para a percepção da importância da preservação ambiental para a sobrevivência humana. Também, manifestou-se em saudação à Fundação Gaia, pelo recebimento, hoje, do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada do PMDB, cumprimentou o Vereador Beto Moesch pela iniciativa da concessão, à Fundação Gaia, do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger. Ainda, analisou dados alusivos aos níveis de poluição ambiental verificados em Porto Alegre, propugnando pela adoção de políticas que viabilizem uma maior proteção ao ambiente natural, como forma de melhorar a qualidade de vida da população. O Vereador Raul Carrion, em nome das Bancadas do PC do B e PT, salientou a importância das atividades promovidas pela Câmara Municipal de Porto Alegre em homenagem ao transcurso do Dia Mundial do Meio Ambiente, criticando as políticas capitalistas que promovem a destruição indiscriminada da natureza, a fim de aumentar a percepção de lucros. Também, cumprimentou a Fundação Gaia pelo recebimento do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger. Em continuidade, foi realizada apresentação artística pelas alunas Kayciele, Franciele e Thanise, da Escola Municipal Lidovino Fanton, sob a orientação da professora Clarice Abrahão, que declamaram poesia intitulada “Anjos Não Morrem”. Após, a Senhora Presidenta convidou o Vereador Beto Moesch a proceder à entrega do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Senhora Lara Lutzenberger, concedendo a palavra a Sua Senhoria que, em nome da Fundação Gaia, agradeceu a homenagem prestada por este Legislativo. Também, o Vereador Beto Moesch procedeu à entrega, à Senhora Lara Lutzenberger, de fotografia alusiva à presença do Senhor José Lutzenberger neste Legislativo, e procedeu à entrega, à Vereadora Maria Celeste, de muda de árvore. A seguir, a Senhora Presidenta registrou a presença do Senhor Walter Koch, representante da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e da Senhora Lili Lutzenberger, filha do Senhor José Lutzenberger, convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e trinta e um minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pela Vereadora Maria Celeste e secretariados pelo Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino Besson, 2° Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Boa-noite a todos e a todas. É com grande alegria que damos início à Sessão Solene em homenagem à Semana Mundial do Meio Ambiente e de outorga do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Fundação Gaia. Compõem a Mesa dos trabalhos: o Ex.mo Sr. Luiz Paulo Rodrigues Cunha, Secretário Substituto do Meio Ambiente e representante do Governador do Estado; a Sr.ª Lara Lutzenberger, Presidenta da Fundação Gaia; o Ex.mo Dr. Luiz Alberto Aurvale, Procurador da República; e a Dr.ª Verena Nigard, Presidenta da Fundação Zoobotânica.

 

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

Quero registrar a presença do nosso Secretário Municipal do Meio Ambiente, Sr. Dieter Wartchow. Ele não compõe a Mesa, porque, em seguida, precisa estar na Conferência Municipal do Meio Ambiente, uma das atividades que marcam a cidade de Porto Alegre também.

O Ver. Beto Moesch, proponente desta Sessão Solene, está com a palavra e falará, também, pelas Bancadas do PP, PTB e PSB.

 

O SR. BETO MOESCH: Sr.ª Presidenta, Srs. Vereadores e Sr.as Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Também gostaria de citar, como extensão da Mesa, representando o Irmão Norberto Rauch, o Prof. Jorge Alberto Villwock, Diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUC; o Sr. Ivo Fortes dos Santos, representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Sr. Celso Marques, ex-Presidente da AGAPAM, nosso amigo de longa data e a Sr.ª Edi Fonseca, Presidenta da AGAPAM.

Hoje é o Dia Mundial do Meio Ambiente; portanto, um dia de profunda reflexão. Em 1971, algumas pessoas, mais do que refletindo, procuravam colocar em prática a busca de um desenvolvimento, sim, mas de um desenvolvimento sustentável, não aquele desenvolvimento afastado do que a natureza, perfeitamente, concedeu ao homem: uma inter-relação perfeita e harmoniosa - a flora, os animais, o ar, o solo, a água, tudo se comunicando perfeitamente, tudo isso para servir o ser humano.

Infelizmente, esse próprio ser humano não se deu conta disso no seu processo histórico e buscou apenas tecnologias afastadas dessa perfeição para alcançar mais qualidade de vida. Paradoxalmente, passou a afetar a sua própria qualidade de vida; um paradoxo brutal! E, muito tardiamente - eu, como otimista, penso que ainda há tempo -, demo-nos conta de que esse processo estava totalmente errado e levando o ser humano ao abismo.

Em 1971, aqui em Porto Alegre - e esta Casa, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, orgulha-se muito de ser o Poder Legislativo da Cidade onde se criou de um movimento que, organizadamente, se apresentou como o primeiro da América Latina e, talvez, do mundo - a AGAPAM -, fundada, também, por José Lutzenberger, por Hilda Zimmermann, por Carneiro e por tantos outros. Depois, várias outras pessoas passaram a fazer parte dessa organização, dando uma resposta política e não apenas científica e de movimentos de protesto, uma resposta a isso tudo.

Na época, eram chamados de visionários, de loucos, e a pauta ambiental, a pauta ecológica, que, na época, era coisa totalmente absurda, hoje é obrigatória. Não existe dia em que, ao abrirmos os jornais, ao ligarmos o rádio, a TV, não esteja, ali, sempre, a pauta ambiental; sempre, diariamente, constantemente, permanentemente.

Mesmo tarde, teria sido mais tarde se aqueles visionários e loucos não tivessem tido a coragem de nos apresentar essas reflexões e uma ação necessária de, entre aspas, novos paradigmas para uma vida sustentável. Novos paradigmas? Mas que novos paradigmas? É o paradigma da natureza, lá do Gêneses – não são novos paradigmas! Nós temos de resgatar os paradigmas milenares para modernizarmo-nos de forma sustentável, de forma ética. Se nós queremos, realmente, respeitar o próximo, se queremos justiça social, como fazer isso desrespeitando o meio ambiente? Ao desrespeitarmos, ao degradarmos o meio ambiente, estamos desrespeitando o próximo; estamos, egoisticamente, apropriando-nos, de forma individual, de algo que pertence a todos. Estou colocando isso, Ver.ª Maria Celeste, porque estamos na Semana Mundial do Meio Ambiente. Esta é a primeira Sessão Solene desta Casa alusiva ao Meio Ambiente. Por Resolução, esta Casa, sempre, na Semana do Meio Ambiente, terá de oferecer à sociedade uma Sessão Solene para refletirmos sobre isso. A extraordinária figura de Lutzenberger, que, dentre outras coisas criou a Fundação Gaia, esteve aqui, entre nós, várias vezes. Em 2001, proferiu uma conferência extraordinária sobre a sua visão de mundo para Porto Alegre.

A nossa Semana do Meio Ambiente, já na sua terceira edição, está “com os pés no chão”, sempre. Fizemos um seminário sobre o Plano Diretor terça-feira. Nós queremos tratar o meio ambiente aqui de Porto Alegre, os problemas ambientais, as guerras, as daqui; não podemos ficar “viajando na maionese” – desculpem a expressão - enquanto temos problemas aqui na nossa rua, no nosso bairro, na nossa Cidade! É esse o meio ambiente que queremos discutir. Está aí a exposição de artistas, de escultores nossos, como Roberto Umansky, que, de uma árvore, um guapuruvu derrubado, fez obras de arte. Revoltamo-nos num primeiro momento, mas, como otimistas que aprendemos a ser com Lutzenberger e tantos outros, porque temos de amar a vida e, portanto, amar o próximo, nós transformamos aquele absurdo, aquela aberração numa obra de arte - está aqui embaixo, no saguão. Era uma árvore daqui, da Vila Assunção, em Porto Alegre, coisas da nossa Cidade, de Porto Alegre. A vida está aqui na cidade de Porto Alegre, e acreditamos, sim, que é possível viver neste planeta e não apenas sobreviver. Acreditamos que é possível ver as crianças brincando de pandorga nas nossas ruas, que é possível termos um Guaíba balneável, termos uma arborização exuberante, e não podada e maltratada, para nossa qualidade de vida, para nossa qualidade do ar, para nossa paisagem. Nós acreditamos nisso, sim, e por isso estamos aqui, diuturnamente, lutando por isso que nós acreditamos, por aquilo que nós acreditamos, eternamente otimistas, embora o processo de degradação seja muito mais acelerado do que o processo de proteção. Muitas coisas boas estão sendo feitas, como a própria Fundação Gaia, que está recebendo hoje o Prêmio Ecologista José Lutzenberger, prêmio esse que passa, agora, a ter um nome - José Lutzenberger - por nossa proposição, ainda do ano passado.

O Secretário Luiz Alberto Wenzel, hoje de manhã, no Palácio, lembrava o enterro do Lutz. Quem esteve lá presente, eu estive, jamais esquecerá aquela manifestação da natureza: nós tínhamos sol, estava até calor. Quando estávamos chegando perto dos eucaliptos, onde ele estava sendo enterrado, começou a chuviscar fraco. Quando terminou o enterro, imediatamente, no relógio, a natureza passou a manifestar-se de forma estrondosa. Os eucaliptos se dobravam a Lutz, como que agradecendo a ele pelo que fez e chamando-o, a natureza chamando-o. Foi uma coisa espetacular! E naquele dia, trago aqui o que foi entregue naquele dia lá, no Rincão Gaia. (Lê.)

“A verdadeira, a mais profunda espiritualidade consiste em sentir-nos parte integrante deste maravilhoso e misterioso processo que caracteriza Gaia, nosso planeta vivo: a fantástica sinfonia da evolução orgânica, que nos deu origem junto com milhões de outras espécies. É sentir-nos responsáveis pela sua continuação e desdobramento.- José Lutzenberger.”

Nós acreditamos nisso, e, no dia-a-dia, aqui na nossa rua, no nosso bairro, na nossa Cidade, nós queremos colocar em prática esse ideal, essa doutrina, essa maneira de pensar a vida. Nós acreditamos que é possível. E por isso estamos nesta Sessão Solene, e por isso estamos entregando hoje o Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Fundação Gaia. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): O Ver. Ervino Besson está com a palavra em nome do PDT.

 

O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em nome da Bancada do PDT, eu queria, com muito carinho, saudar a todos. Quem leu os jornais do dia 3 deste mês - acho que é um alerta para o mundo, Ver. Beto Moesch - é um alerta para o mundo esta foto aqui... (mostra a foto) sobre o que está acontecendo na Índia. Vou ler uma parte do que diz aqui (Lê.) “Nem ouro, nem pedras preciosas, nem petróleo; o produto mais cobiçado pelos indianos, nos últimos dias, é a água! Acho que é um alerta para o mundo. Será que outros países não vão seguir esse caminho? Mas, graças a Deus, existem pessoas hoje que nem vocês, que nem nós!

José Lutzenberger, uma pessoa extraordinária, e, tenho certeza, de que tudo o que ele deixou na sua vida, na sua luta, cada um de nós aprendeu um pouco. Esse pouco que nós aprendemos, temos de estender cada vez mais e mais, inclusive para os jovens e para as crianças, a fim de que outras gerações não enfrentem os problemas que estamos enfrentando nos dias de hoje.

Eu tenho muito orgulho e, ontem, falei que sou do Interior. Meus avós vieram da Itália e, naquela época, existiam muitas matas nativas, muitas vertentes de água. Os meus pais e os meus avós tinham cuidado com o meio ambiente, com as vertentes de água que, na época, nós não conseguíamos entender. Sabem como são as crianças, imaginem cortar uma árvore ou fazer qualquer agressão nos locais onde havia vertentes...

Eu disse, ontem, e vou repetir quantas vezes forem necessárias: hoje, lamentavelmente, não existem mais aquelas vertentes e nem aquelas águas cristalinas do rio Guavirova.

Eu trouxe, ontem, uma pinha e mostrei aqui da tribuna, pois hoje não se tem sequer um pé de Pinheiro. Pinheiro é na linguagem do italiano, muitos conhecem por Araucária, que hoje é protegido por Lei.

Eu vim para Porto Alegre em 1961, fui trabalhar junto à Organização Secretariado e Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre e lá foi construído um Plano Habitacional Cidade de Deus. Lá havia três vertentes de água – esse meu querido jornalista também é pessoa oriunda, nós tivemos uma passagem muito bela, muito positiva ao longo da nossa vida – e uma daquelas vertentes abastecia cem famílias e sobrava água. Havia uma outra que era utilizada, pois, naquela época, havia matadouros de frango, suínos e gado. Inclusive, um dia desses, eu estava procurando uma papelada e mostrei ao Ver. João Antonio Dib, Presidente desta Casa, minha cara Presidenta Maria Celeste, nós recolhemos água daquela vertente e foi para a análise, o resultado dado pelo DMAE é que era uma água de excelente qualidade, era, praticamente, uma água mineral. Mas a natureza perdeu a luta para as construções, para os aterros. Eu tentei salvar uma delas, pelo menos, porque centenas de pessoas, inclusive pessoas aqui do Centro, iam lá buscar aquela água, tal a sua qualidade. Não existe mais nenhuma delas. Que tristeza!

Vamos seguir mais adiante um pouco. Vejam esta foto. (Mostra a foto.) Esta foto aqui tem aproximadamente sete anos. Sabem de onde é esta foto? Eu estou tomando água aqui e nem sabia que, um dia, também essa vertente perderia a luta para as obras. É na Cristiano Kremmer, um assentamento. Nada contra essas pessoas, são seres humanos iguais a nós. Eu só acredito que, no dia em que houver seres humanos imortais, um não será diferente do outro. Portanto, não existe isso; todos somos iguais.

Agora, que tristeza, eu estou tomando água aqui, tal a qualidade dessa vertente, que servia para muitos daqueles produtores e chacareiros. Vocês vão lá hoje, e não existe mais a vertente. Olhem a qualidade dessa água! Eu nem sabia que alguém fora tirar uma foto ali. Recebi-a de uma pessoa que estava visitando aquele local e mandou-me de Santa Catarina, porque viu, talvez, uma palestra minha, enfim, cobrando até do órgão público, com todo o respeito, pois, inclusive hoje, eu pedi informações, sem crítica nenhuma. Acho que estamos aqui para discutir o problema e resolvê-lo, porque acho que não houve o parecer da SMAM, do órgão competente, para que fossem assentadas aquelas pessoas, mas o que é que a gente vai fazer, não é?

Eu sempre digo: “Vamos continuar a nossa luta”, e também o aprendizado que teu pai, minha querida Lara Lutzenberger, deixou para todos nós, pois hoje, quando a Fundação Gaia recebe esse Prêmio José Lutzenberger, eu acho que é um dia que deve ficar marcado na memória de cada um de nós, para que possamos, sim, com essa luta, transmitir essa preocupação, principalmente, para os jovens, para que não venham, no futuro, outras gerações a enfrentar problemas sérios como os que enfrenta a Índia, como todos tiveram oportunidade de ver.

Fraterno abraço a todos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): O Sr. Sebastião Melo está com a palavra pelo PMDB.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Em primeiro lugar, a minha saudação à Presidenta, a nossa querida Ver.ª Maria Celeste. Saúdo, de forma muito especial, o proponente desta iniciativa, o extraordinário Ver. Beto Moesch, Vereador de primeira legislatura, como eu, e aqui nesta Casa, somos um pouco generalistas, acabamos enveredando para algum campo de atuação, e o Ver. Beto Moesch é o nosso guia de luta aqui, não só na Casa, mas nas lutas da Cidade, relativamente ao meio ambiente; então, é mais do que justo, Ver. Beto Moesch, prestar, desta tribuna, esta homenagem a alguém que luta pelo meio ambiente, porque lutar pelo meio ambiente é nada mais do que lutar pela vida. Os nossos cumprimentos e reconhecimento pelo trabalho.

Saúdo as autoridades da Mesa, devidamente nominadas, mas, especialmente, todas as representações de muitas entidades de defesa do meio ambiente que vejo aqui.

Quero dizer, nesta breve manifestação, que o poder de Estado, no sentido lato sensu, Ver. Raul Carrion, ao longo do tempo, foi criando legislações na defesa do meio ambiente, mas ele é o primeiro a desrespeitá-lo. Então, as entidades não-governamentais cumprem um papel fundamental, indispensável na defesa do meio ambiente; se não fossem essas bravas entidades, Ver. Dr. Goulart, estaríamos pior do que estamos hoje, porque o poder de Estado, no sentido lato sensu, cria a legislação e é o primeiro a não cumpri-la. Isso vale para o governo federal, para os governos estaduais e vale para os Municípios como um todo. Mas qual é o fulcro da questão, o pano de fundo? É que este mundo tem o movimento muito forte do poder econômico, que é capaz de suplementar os interesses mais dignos da vida, que é a própria vida. Nós vemos os países industrializados hoje, começando pela América do Norte, com seu imperialismo, que polui o mundo inteiro e quer ditar normas para o mundo. Isso vale para os outros países da Europa, que também produzem cargas pesadíssimas de poluição e, ainda assim, querem ditar regras para a humanidade sobre o meio ambiente.

Para falar do meio ambiente, poderíamos falar de muitas coisas do mundo, muitas coisas do Brasil, mas eu prefiro ficar um pouco aqui, na cidade de Porto Alegre, porque é a nossa área de militância, da nossa jurisdição como Vereador. Acho que Porto Alegre, Presidenta, está um pouco mais avançada do que outras capitais brasileiras, mas não significa que nós vamos bem; é que as outras capitais vão muito mal, porque nós vivemos numa Cidade que ponteia uma qualidade de vida, mas que 75% do esgoto ainda não é tratado. Esse é um avanço que nós precisamos construir de forma coletiva, junto com o Poder Público. Eu não posso admitir, Senhores da mais alta representação, que, neste ano em curso, o Poder local, de forma irresponsável, abriu a praia do Belém Novo, e, um mês depois, teve de fechar, colocando em risco a vida das pessoas. E nós lá estivemos, Beto, em audiência pública, ouvindo pessoas humildes. Aquelas pessoas foram expostas a uma situação de saúde pública. Portanto, isso é falar de coisa aqui da Cidade. Quando foi fechado o Aterro Sanitário da Extrema, aterro que nunca poderia ter acontecido, porque aquilo ali é um crime incalculável, por mais que ele esteja fechado e que seja lacrado hoje. Por quê? Porque ele contaminou o lençol freático de uma região próxima do Guaíba. Então, nós estamos falando da nossa Cidade, que nós queremos bem, que nós amamos, que nós defendemos, mas, ao comemorarmos o Dia do Meio Ambiente, temos de refletir sobre isso, porque, senão, parece que as coisas vão muito bem. Eu não estou fazendo uma crítica direcionada, não. Eu acho que isso é uma responsabilidade do coletivo. Todos nós temos responsabilidade. Vejo aqui o Secretário Substituto, e eu queria dizer, por exemplo, Secretário, que o Aterro Santa Tecla, desde o dia 19 de janeiro, está funcionando sem licença de operações lá em Gravataí. Isso é muito grave, porque não se construiu alternativa ao longo de um tempo. O responsável tinha obrigação de construir, não construiu. Portanto, eu queria dizer, para finalizar, que, evidentemente, as ações que o movimento na defesa do meio ambiente vem tendo ao longo da sua caminhada, têm conscientizado, porque, se nós não passarmos por um processo de conscientização, e essa é a questão fundamental, e também de legislações rigorosas em que o poder de Estado faça cumprir essa legislação, porque nós temos leis boas, mas a verdade é que as leis para os poderosos não são cumpridas; para os pequenos, elas, muitas vezes, são aplicadas, mas para os poderosos, elas não são cumpridas. Portanto, este dia é um dia de nós refletirmos sobre isso, porque, se, de um lado, o Poder Público tem a obrigação de conduzir o processo, ele, às vezes, de forma irresponsável, tem poluído mais o nosso País e, talvez, a humanidade. Portanto, cumprimentos, Ver. Beto Moesch, mais uma vez, pela iniciativa, fundamentalmente porque esta iniciativa é uma resultante de um processo, mas o mais importante é aquela luta lá, do dia-a-dia. Eu cheguei nesta Cidade em 1978, nesta grande Cidade que me acolheu, goiano de nascimento e porto-alegrense de coração. Eu lembro que, em 1979, se não me engano, Ver. Beto Moesch, e tu talvez me ajudes, aquele estudante, que se chamava Darel, subiu numa árvore na esquina da João Pessoa com a Sarmento Leite, em plena ditadura, foi preso por protestar contra a construção daquele viaduto, para proteger a árvore. Talvez esteja no momento de posições de rebeldia como essa para despertar toda esta questão que está posta aí.

Portanto, mais uma vez, cumprimento a Presidenta, cumprimento a Mesa, cumprimento o Ver. Beto Moesch e cumprimento todas as entidades aqui presentes. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Quero registrar a presença do Ver. Dr. Goulart, que está conosco, também, nesta Sessão Solene.

O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará pelo seu Partido, o PC do B, e pela Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em primeiro lugar, quero iniciar parabenizando a Fundação Gaia, criada em 1987, que hoje recebe o Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger, pelo seu trabalho em prol do desenvolvimento ecológico socialmente justo da defesa dos sistemas naturais, na identidade cultural dos povos e minorias. Recebam os nossos cumprimentos.

No dia de hoje, comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Decorreram 11 anos desde a ECO 92, que tantas esperanças despertaram na humanidade. Infelizmente, o balanço dessa década de globalização neoliberal não é nada positivo para os que lutam por um desenvolvimento ambientalmente sustentável, socialmente justo e economicamente viável.

A exploração predatória do planeta avança, tendo por único acicate o lucro máximo a qualquer custo.

O consumismo desenfreado, estimulado por uma máquina produtiva que não pode parar, pois sua única razão de ser é a crescente acumulação de capital e não a satisfação das necessidades da humanidade, é o motor da destruição da natureza. Aumenta o buraco da camada de ozônio que nos protege do excesso de radiação ultravioleta; cresce o efeito estufa causado pela emissão de óxido de carbono. Dos trópicos aos pólos, observa-se o crescimento global do planeta.

O Ártico perdeu 6% de sua área entre 1978 e 1996 e a espessura do seu gelo caiu 40%, elevando, de forma gradativa, o nível dos mares. As mudanças climáticas são radicais; os verões são cada vez mais longos, e os invernos mais curtos; a desertificação aumenta em todos os continentes, ao mesmo tempo multiplicam-se as inundações catastróficas; a fauna do planeta é paulatinamente destruída, aumenta o número de espécies em extinção.

A biodiversidade vê-se seriamente ameaçada por uma agricultura centrada nos herbicidas e nas queimadas. E lembremos a tragédia, quando, no ano passado, a Assembléia Legislativa aprovou, novamente, a permissão das queimadas contra unicamente treze votos, um deles o da nossa brava Deputada Jussara Cony, do PC do B.

A poluição das águas, dos solos e da atmosfera crescem em proporções geométricas. Hoje, um bilhão de pessoas já sofrem pela falta de água potável, e estima-se que, até 2020, metade da humanidade sofrerá desse problema.

A transgenia - monopolizada pelas transnacionais - e o patenteamento da própria vida expropriam a humanidade do conhecimento acumulado em milênios.

Lembremos das palavras de alerta de José Lutzenberger - Lara -: “A soja transgênica é resistente ao herbicida da própria casa, obriga o agricultor à 'compra casada' - semente mais herbicida -, mesmo que não haja necessidade para tal. Já estão, também, preparando cultivares com o gene ‘terminator', um gene que faz com que a semente colhida pelo agricultor se suicide ao ser semeada. Não é por nada que as grandes transnacionais dos agrotóxicos nos últimos anos compraram já a quase totalidade das empresas independentes de sementes. Com isso, preparam-se para um monopólio global.

O que tem a ver isso com resolver o problema da fome? Tem a ver com criação de estruturas de poder de dependência! O que a grande tecnocracia pretende, e para isso usa o mecanismo de globalização, o FMI e a OMC, é deixar sobreviver apenas as grandes monoculturas comerciais, que dependem totalmente de seus insumos cada vez mais caros e que tem de entregar os seus produtos a preços sempre mais manipulados.” Sábio José Lutzenberger.

E agora a Monsanto quer cobrar o fato de, ilegalmente, a soja transgênica ter sido plantada no Rio Grande do Sul.

O Protocolo de Kyoto – pelo qual os países desenvolvidos obrigam-se a reduzir a emissão de gases poluentes em pelo menos 5% até 2012, em relação a 1990, não teve a adesão dos Estados Unidos, responsável por 25% de toda poluição atmosférica do planeta. O novo “Dono do Mundo”, George Bush, na antevéspera da assinatura do protocolo de Kyoto, em maio de 2001, ainda teve a arrogância de dizer: “Somos o maior poluidor do mundo. Mas, se for preciso, vamos poluir ainda mais para evitar uma recessão na economia americana”. Da mesma forma, o Império do norte nega-se a assinar o Tratado de Biodiversidade. As indústrias altamente poluentes, que a legislação dos países desenvolvidos proíbe, são enviadas para os países do Terceiro Mundo; o lixo tóxico do Primeiro Mundo é nele depositado em nome da cooperação comercial e dos acordos tecnológicos. A globalização, ao invés de atenuar os problemas ambientais, só os agravou e ampliou-os em decorrência do domínio, cada vez mais acentuado, dos interesses financeiros, comerciais e industrias de países centrais. Formas tradicionais de produção integradas ao meio ambiente são destruídas em nome da realização do capital. Por tudo isso, a luta em defesa do meio ambiente não pode se limitar apenas às questões menores, pontuais, paroquiais. A gravidade do momento exige que liguemos a luta pela preservação do planeta Terra à luta maior por uma nova sociedade e por uma outra lógica produtiva, cujo objetivo seja a satisfação das necessidades materiais e espirituais da humanidade em equilíbrio com a natureza e não o lucro. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Neste momento chamamos a Professora Clarice Abrahão, da Escola Municipal Lidovino Fanton, que apresentará as alunas Kayciele, Franciele e Thanise declamando a poesia “Anjos não Morrem”.

 

A SRA. CLARICE ABRAHÃO: Senhoras, senhores e senhoritas, antes de mais nada, queria agradecer pela oportunidade de, enquanto escola, estar ocupando este espaço, é muito importante que a educação consista sempre em um binômio com a palavra ecologia, não conseguimos conceber um mundo sustentável, a possibilidade de futuro, sem pensar na relação educação/ecologia. Viemos da comunidade da Restinga Velha, uma comunidade que está começando a se construir de forma diferente, onde a gente está construindo uma política de paz, que parte da ecologia. A gente está tentando mudar aquela imagem do morador da Restinga, que é violento, que está relacionado ao crime, ao tráfico, trazendo a imagem desse novo morador da Restinga, que se importa com o meio ambiente, que se preocupa se tem um cachorro que está na rua, que se preocupa com o Morro São Pedro, com uma área enorme, linda, de mata preservada, onde tem bugio e onde a gente começa um trabalho de construção de uma nova visão. Nós somos um grupo de educadores ambientais constituído por toda uma comunidade de crianças, de moradores, de professores - e esse grupo aumenta a cada dia. Ele iniciou há quatro anos, com duas turmas, e, neste momento, a escola toda está mobilizada no sentido de estar participando, de estar realizando ações de caráter ambiental. A gente fica muito contente ao ver que essas ações frutificaram, ao ponto de hoje, aqui, nesta Sessão da Câmara de Vereadores, nós termos moradores da Restinga falando.

No ano passado, quando aconteceu a morte do Lutz, elas ficaram muito preocupadas. Elas disseram: “Professora, e agora, quem é que vai cuidar? Quem é que vai fazer?" E a resposta veio através de um poema, que elas vão ler aqui, porque a criança tem, no seu imaginário, a questão do anjo. O anjo é aquele que está junto, é aquele que está perto, é aquele que protege. E a resposta que elas encontraram foi que os anjos não morrem. Então, esse anjo que cuidou tanto da natureza, que cuidou tanto da terra, continua vivo, cuidando da terra, da natureza, delas. É isso que elas vão trazer aqui, hoje. O poema que elas vão ler foi feito coletivamente, na turma, no ano passado, e foi publicado no jornal de educação ambiental que elas realizam. A fala é bem delas. Eu não organizei, é fala de criança, mas é totalmente voltada para essa nova visão que elas estão trazendo de educação ambiental.

 

AS SRTAS. KAYCIELE, FRANCIELE E THANISE: “Anjos não morrem / Anjos Lutz não morrem / viram pássaros/ viram luz/ viram árvores/ pensamento ou lembranças de criança;

os caminhos dos anjos viram estradas verdes / iluminadas pelo sol do amor/ enfeitadas pela natureza / bonitas como é a terra / limpa e preservada.

Anjos não morrem / ficam brincando de roda ao redor do planeta / enquanto cuidam / com suas asas brancas de paz / a água / o solo / os animais e as plantas."

 

Nós fizemos este poema a um grande amigo da natureza que todos conhecem, que é o Lutzenberger.

Esta é nossa homenagem para o anjo da natureza. (Palmas.)

 

(Procede-se à entrega do poema à Sr.ª Lara Lutzenberger.) (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Anjos que estão entre nós, anjos não morrem jamais, e que, agora, também, através do riso e da alegria, contagiaram nossa Sessão Solene. Obrigada, meninas.

Convido o Ver. Beto Moesch para fazer a entrega do Prêmio Ecologista do Ano José Lutzenberger à Presidenta da Fundação Gaia, Sr.ª Lara Lutzenberger.

 

(Procede-se à entrega do Prêmio.) (Palmas.)

 

O SR. BETO MOESCH: Como é uma Sessão Solene alusiva ao Meio Ambiente, tinha de quebrar um pouco o protocolo: também vou entregar à Lara uma foto ampliada do Lutz, aqui, na Câmara de Vereadores, em 2001, proferindo, para nós, aquela conferência que referi em meu pronunciamento.

 

(Procede-se a entrega da fotografia.) (Palmas.)

 

Entregarei uma muda de árvore para quem presidiu esta Sessão, nossa querida Ver.ª Maria Celeste.

 

(Procede-se a entrega de uma muda de árvore.) (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Convidamos a fazer uso da palavra a nossa homenageada de hoje, Sr.ª Lara Lutzenberger.

 

A SRA. LARA LUTZENBERGER: Sr.ª Presidenta, Ver.ª Maria Celeste, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. Em primeiro lugar, os meus cumprimentos a todos aqui presentes, ao Ver. Beto Moesch, que teve essa iniciativa tão especial, aos componentes da Mesa, às autoridades, a todos os amigos que se reuniram aqui conosco, hoje. Foi tão bonita essa homenagem, que é difícil não se emocionar. Foi tão poético... Os discursos de vocês, essa poesia tão bonita das crianças, essa foto, com que todos nós brincávamos... Parece mesmo um anjo. É difícil manter a compostura. Quando eu soube deste prêmio, que muito me alegrou e alegrou a todos nós da Fundação Gaia, uma das coisas que eu pensei, que me parece justo e que eu gostaria, mais do que nada, é de compartir e dedicar este prêmio a todo o movimento ambientalista, desde aquelas primeiras vozes isoladas e muito corajosas, lá nos anos 40 e 50, que se manifestaram a favor do meio ambiente, até essas inúmeras iniciativas que nós vemos hoje espalhadas pelo mundo e que já são iniciativas coletivas, e, finalmente, até esse movimento que nos aguarda, essa fase que nos espreita aqui na esquina, que é o que eu chamaria de movimento de uma grande consciência global. Acredito que os nossos 6 bilhões de habitantes, nossos concidadãos – quem sabe até serão um pouco mais, um pouco menos -, mas que, finalmente, toda a humanidade há de se perceber como membro de uma comunidade muito maior - a Comunidade de Gaia - em que mais do que nada é a celebração da vida em todas as suas formas e manifestações, o que importa; esse será o nosso grande objetivo.

Nessa grande Comunidade de Gaia eu vejo que não haverá mais espaço para a visão da nossa cultura, que predomina hoje ainda em grande parte, que é uma visão, que eu diria míope, uma visão reducionista, antropocêntrica, já quase egocêntrica de mundo, que nos faz sentirmos superiores às demais espécies que coabitam o planeta conosco e nos auto-intitula o direito de destruir, dizimar as demais espécies, ecossistemas inteiros, grandes regiões, regiões inteiras do nosso planeta. Para quê? Geralmente, para nós adquirirmos, mais e mais, riqueza material; riqueza material que é efêmera, cuja aquisição gera estragos, tem impactos que provável e certamente requererão bilhões de anos para se recuperarem. Bilhões de anos é uma dimensão de tempo que vai muito além da dimensão de tempo que nos é familiar.

Eu pensei, neste momento também, em fazer um breve resgate do Movimento Ambientalista, em nível local e em nível planetário, em nível mundial. Localmente, em 1942, nós tivemos o Padre Rambo, jesuíta, que escreveu um livro muito bonito, muito especial – recordo-me, sempre, do pai indicando-me a leitura desse livro – que se chama A Fisionomia do Rio Grande do Sul. Nesse livro, o Padre Rambo descreveu, de uma forma muito poética, todas as paisagens do nosso Estado.

Posteriormente, vocês devem recordar, tivemos Roessler, que, como um indivíduo isolado e desesperado com o que ele estava vendo acontecer no mundo, panfleteava na comunidade, motivando as pessoas a voluntariar junto com ele na fiscalização do que ele até chamava de “os tarados da sociedade”, que destruíam tudo o que viam pela frente. Na época, nos anos 50, o Roessler também fundou a primeira ONG brasileira de conservação, a União da Proteção Natural, a UPN, foi a nossa primeira ONG em nível de Brasil.

Também, lá nos anos 50, já começaram nas demais partes do mundo iniciativas singulares como essa. Em 1962, tivemos um grande marco no mundo, que foi o livro da Rachel Carlson, que se chamava Primavera Silenciosa. Também me recordo muito de o pai falar desse livro, de como esse livro impactou-o e sensibilizou-o, e sei que isso também foi o caso em todo o mundo. Nesse livro, a Rachel Carlson chamava a atenção sobre o grande desastre que eram os pesticidas.

Nos anos 70, tivemos a AGAPAM, aqui, localmente, que foi criada a partir da reunião de um grupo de ambientalistas, como a Hilda Zimmermann, a Magda Renner, meu pai, Augusto César Carneiro, acho que o Celso Marques também já esteve presente naquela época, em que se começou, então, a discutir, já de uma forma mais política, e começou-se a popularizar na sociedade a questão do meio ambiente.

Também nos anos 70, em nível mundial, James Lovelock lançou a Hipótese Gaia, que é toda essa visão de comunidade, de comunidade única planetária, que engloba todos os demais seres. A partir daí, as coisas foram cada vez mais intensas. Em 1972, tivemos a primeira Reunião das Nações Unidas, em Estocolmo; em 1982, houve um manifesto muito importante, que foi o Manifesto pela Natureza que, apesar de ainda pouco conhecido, ele é mais completo, mais significativo do que o manifesto posterior, na Eco 92, que é o Manifesto pela Terra. O Manifesto pela Natureza, eu tive acesso há uns dias, é um documento realmente supercompreensível de toda essa questão ambiental e que deveríamos, também, resgatar mais junto à sociedade.

Em 1992, houve a Eco 92; em 2001, tivemos o Fórum Social Mundial que, então, fez esse casamento entre a abordagem social e o ambiental, mostrando para a comunidade que os dois - social e ambiental - são faces de uma mesma moeda. Finalmente, agora, em 2002, tivemos a Rio + 10, em Johannesburgo. Isso só para sinalizar brevemente. Acho que são alguns dos marcos principais de todo o movimento ambientalista. O que chama mais a atenção nisso é que ele começou há mais de meio século, nos anos 40 e 50. Aí paramos para pensar, resgatando como era a abordagem ambiental naquela época, e ela era absolutamente idêntica a que temos hoje. Ela chamava a atenção para os estragos ambientais e para a necessidade de revermos a nossa postura como espécie no planeta e de, finalmente, percebermo-nos como membros de uma comunidade maior e mudarmos a nossa atitude individual, inclusive. Então nos perguntamos: mas são quarenta, cinqüenta, sessenta anos que está-se dizendo isso: será que vai mudar alguma coisa, será que temos esperança? Acredito que sim, porque há uma diferença. Naquela época, eram vozes individuais, eram indivíduos, um aqui, outro acolá, que gritavam pelo mundo; hoje, já somos grandes grupos, já existe um coletivo divulgando essa questão. Aí vejo que estamos, realmente, a um passo de alcançarmos uma massa crítica que realmente contagie todo o planeta e que se dê a grande virada.

A Fundação GAIA, para mim, é uma pequena luzinha que meu pai acendeu ao dar-se conta, também, do risco iminente de nosso planeta sofrer um apagão. Hoje há muitas outras luzinhas e muitas mais serão necessárias para que alcancemos a iluminação planetária.

O prêmio que estamos recebendo hoje acho que, mais do que nada, é um reconhecimento a todo esse processo e um grande estímulo para que mais luzinhas se acendam. Obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTA (Maria Celeste): Registramos as presenças: do Ver. Elias Vidal, da Bancada do PTB; do Sr. Walter Koch, da UNISINOS, muito bem-vindo a nossa Sessão; e também da outra filha do Lutzenberger, a Lili Lutzenberger.

Neste momento, convidamos todos os presentes para ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h31min.)

 

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